Eletrificação não é descartável
José Renato Nalini
Embora ainda polêmica a eletrificação da frota veicular brasileira, a adoção de carros, caminhões e ônibus elétricos não é de ser descartada. Ao contrário, deve-se insistir nessa tendência mundial.
Por vários motivos. Numa conurbação insensata como a capital paulista, o excessivo número de veículos a circular ininterruptamente por suas ruas é um fator de perda de qualidade vital. Quantas as pessoas que morrem, a cada ano, vítimas dos gases venenosos expelidos por frotas abastecidas por combustíveis fósseis?
A eficiência energética dos caminhões e ônibus elétricos é a resposta mais simples, mais rápida e mais barata. Quando se utiliza menos energia, há menos emissão de tóxicos. Energias renováveis tornam as cidades mais resilientes e é isso o que a humanidade deve buscar agora, quando as medidas mitigatórias ou de atenuação já não se mostram suficientes para o enfrentamento da gravidade potencializada das emergências climáticas.
O Brasil tem de aproveitar a sua condição, hoje ainda negligenciada, de ser um detentor de inúmeras formas de energia limpa. Temos o etanol, que precisa ser ainda qualificado para produzir hidrogênio verde. Temos o biometano, o biogás, a energia hidráulica. Somos capazes de nos desvincular da nefasta influência do petróleo e óleo diesel. Basta coragem. É preciso incentivar o uso do automóvel elétrico, sobre o qual pairam apenas boatos e boicotes dos interessados em que ele não se propague. Basta comparar o número de incêndios em carros movidos a combustão, em cotejo com os carros elétricos.
O Brasil tem tudo para se descarbonizar de verdade, não para fazer discurso apenas e ficar nisso. Na retórica, na falácia, na promessa descumprida, no deboche. Tudo o que faz com que nosso País não seja levado a sério nas comunidades internacionais mais civilizadas e mais poderosas.
O governo precisa destravar o ônus injustificavelmente incidente sobre os veículos elétricos, produzidos pela China com vigor e tenacidade, a ponto de fazerem recuar as iniciativas da indústria automobilística ocidental, que não se empenhou como os chineses para a obtenção de produtos mais eficientes e menos dispendiosos.
Há muito a ser feito, com discussões consistentes, medidas ousadas como destinação de corredores para veículos elétricos e estímulo para que as motos à combustão, mais nefastas do que veículos como o automóvel, sejam abandonadas e substituídas por similares movidos a eletricidade.