Dos canaviais à universidade: a trajetória de um sonhador vencedor
Sebastião José dos Santos, o Cutia, de Santo Antônio do Aracanguá, venceu as dificuldades da infância; sem esquecer o passado, soube construir um novo futuro, pautado pelo trabalho e o amor à profissão e sua cidade
ANTÔNIO CRISPIM – SANTO ANTÔNIO DO ARACANGUÁ
Se alguém chegar a Santo Antônio do Aracanguá e perguntar por Sebastião José dos Santos, certamente o interlocutor vai pensar bastante antes de responder. Isso se souber de quem se trata. Porém, se perguntar pelo Cutia, a resposta é imediata. Este é um típico caso em que o apelido superou a popularidade do nome. Por isso, no passado, muitos políticos tiveram de incorporar o apelido ao nome, como Luiz Inácio Lula da Silva, Antônio Edwaldo Dunga Costa e tantos outros. Mas isso é apenas um detalhe. O importante é a pessoa, independente de ser o Sebastião José ou Cutia.
O menino, de origem humilde, teve de trabalhar desde tenra idade. E o trabalho foi em uma usina, que era a grande fonte de trabalho naquela época. Porém, Cutia não deixou se abater pelas dificuldades e avançou em suas lutas para concretizar seus sonhos. E os concretizou. Ela não lamenta os problemas da infância. Disse que teve uma infância feliz como tantos outros garotos de sua época. Fez das dificuldades uma mola propulsora para mudar o seu futuro. E mudou.
Foi para o serviço público, entrou na universidade, foi graduado em comunicação social. Nomeado para a comunicação da Prefeitura com cargo comissionado, serviu vários prefeitos e até grupos rivais. Manteve o profissionalismo acima de questões partidárias ou ideológicas e os prefeitos entenderam isso. Hoje está na comunicação após ser aprovado em concurso público e até mesmo recorrer à Justiça para ser empossado.
Muito comunicativo, Cutia se tornou o porta voz de Aracanguá ou simplesmente a voz da cidade. Além de apresentar programa na Rádio Evidência FM (comunitária, outro de seus sonos realizados), faz leilões, canta bingo em festas beneficentes e apresenta eventos.Está em todas as áreas.
Em meio a tantas atividades, Cutia ainda pratica o ciclismo. Pedala quase todos os dias. Além disso, tem como refúgio a área rural. Sempre que pode vai para uma propriedade de familiares para maior contato com a natureza.
Nesta entrevista ao portal Nossa Cidade (nossacidade.online), Cutia fala sobre a sua vida e projetos futuros.
Nossa Cidade – Qual o nome completo? Por que e quando surgiu o apelido Cutia. Como encarou e encara o apelido?
Sebastião José dos Santos – Apelido surgiu na infância, pelo simples fato de ter o mesmo nome de um senhor que também se chamava Sebastião e tinha o apelido de Cutia. Ele morava na fazenda e quando vinha pra cidade, bebia muito e fazia um barulho danado pelas ruas. Os colegas de classe, na escola, começaram a me chamar de Cutia, me associando a esse personagem e eu não gostava, aí não teve jeito e acabei me acostumando com a ideia.
Nossa Cidade – Quando e onde nasceu. O nome dos pais?
Cutia – Nasci em 29 de novembro de 1971, no então distrito de Santo Antônio do Aracanguá, pertencente, na época, ao município de Araçatuba.
Filho de Maria Medeiros de Jesus e José Pereira dos Santos
Nossa Cidade – São quantos irmãos. Você está em que número na ordem?
Cutia – Somos em sete irmãos (três homens e quatro mulheres), quatro do primeiro casamento da minha mãe com o meu pai, do qual sou o caçula e, outros três, do segundo relacionamento dela. Sou o filho do meio, o quarto na ordem.
Nossa Cidade – Como foi a sua infância. O que fazia e como se divertia, além do trabalho precoce?
Cutia – Minha infância foi marcada por muitos desafios e responsabilidades desde cedo, mas também por momentos simples de alegria, próprios de quem cresceu com poucas posses, mas com o espírito criativo e adaptável. Tive que trabalhar desde cedo, para ajudar a minha família no sustento da casa. O trabalho precoce não era fácil, mas com ele aprendi lições valiosas de disciplina e responsabilidade que moldaram meu caráter.
A simplicidade da vida naquela época não apagou o brilho da minha infância, que, apesar das dificuldades, era cheia de bons momentos marcados por brincadeiras sadias, e o companheirismo de amigos, onde a alegria era encontrada nas pequenas coisas. Quando não estava trabalhando ou estudando, a diversão vinha de forma simples e criativa, típicas de quem não tinha muitos recursos, correndo pelas ruas com outras crianças, jogando bola improvisada com meias ou bolas de pano, jogos de pega-pega e esconde-esconde nas plantações ou entre as casas da vizinhança, construindo brinquedos com madeira, latas, ou qualquer material que estivesse à mão, sem dispensar aquele banho de rio em dias quentes, uma corrida descalço ou uma pipa colorida voando no céu da minha querida Aracanguá.
Nossa Cidade – Quando surgiu a paixão pela área de comunicação?
Cutia – Minha paixão pela comunicação começou de forma muito natural, ligada ao ambiente em que cresci. Inicialmente, me envolvi com a locução de rodeios, o que me permitiu conectar com o público local e regional, compartilhar histórias e criar um ambiente de emoção e alegria durante os eventos. Essa experiência me deu uma primeira amostra do poder da palavra falada e da importância de se comunicar de forma clara e envolvente.
A partir daí, meu interesse pela comunicação se expandiu. Em 1991 conclui o curso de Radialista no Senac no setor “locução” e me ingressei no rádio, começando meu trabalho pela antiga Rádio Cultura AM de Araçatuba, um meio que me permitiu alcançar ainda mais pessoas e tocar diferentes vidas com a minha voz, desenvolvendo minhas habilidades de locução e aprendendo a ser ágil, informativo e carismático ao mesmo tempo.
Com o tempo, meu amor pela comunicação evoluiu para o jornalismo, um campo em que eu poderia não apenas entreter e informar, mas também dar voz às questões importantes da comunidade. No jornalismo, encontrei a oportunidade de compartilhar histórias, sempre valorizando o poder da palavra bem dita e a responsabilidade de ser uma ponte entre os fatos e o público.
Nossa Cidade – Como foi o ingresso na Prefeitura de Araçatuba. O que fazia. Como foi a transição para a Prefeitura de Aracanguá em 1993?
Cutia – Após quatro anos seguidos trabalhando como trabalhador rural no corte de cana na Usina Destivale, onde comecei a trabalhar com apenas 13 anos de idade, iniciei minha trajetória profissional na Prefeitura de Araçatuba em 1989, onde, já com 17 anos, trabalhei como funcionário eventual na função de serviços gerais e, posteriormente, efetivado na mesma função. Esse período foi marcado por um grande esforço e dedicação, realizando diversas atividades e ganhando experiência em um ambiente de serviço público.
Em 1993, Com a emancipação do então distrito de Santo Antônio do Aracanguá, houve uma transição importante na minha labuta, quando passei a trabalhar na Prefeitura do recém-criado município, assumindo a função de motorista por meio de concurso público.
Ao longo dos anos, meu interesse pela comunicação e meu envolvimento com a prefeitura abriram portas para novas oportunidades, associando a função de motorista à de apresentador dos eventos municipais. Esse novo cargo me proporcionou maior proximidade com o funcionamento da administração pública e com diversas figuras da gestão local e, também, me motivou a ingressar na faculdade de comunicação social. No ano 2000, já formado em jornalismo, assumi o cargo de assessor de imprensa, unindo a paixão por comunicar e a experiência dentro do setor público. Essa posição foi um marco, permitindo que eu usasse minhas habilidades para mediar a comunicação entre a prefeitura e a comunidade, consolidando minha trajetória na área de comunicação institucional.
Nossa Cidade – Quantos anos de serviço público e de contribuição ao INSS?
Cutia – Três anos por Araçatuba e 31 de Aracanguá, somando quase 35 anos de serviço público. Ao todo, 39 anos de contribuição ao INSS, somados aos anos de trabalho nos canaviais.
Nossa Cidade – Pensa em aposentar-se?
Cutia – Às vezes penso em me aposentar, porém tenho uma forte dedicação ao meu trabalho na prefeitura e à minha comunidade. No entanto, a aposentadoria pode ser uma possibilidade no futuro, mas por enquanto, estou focado em fazer a diferença onde estou. Mas quando chegar a hora, pretendo continuar contribuindo e participando ativamente de outras formas, no desenvolvimento da minha cidade que me viu nascer, crescer e me ofereceu todas as oportunidades.
Nossa Cidade – É verdade que você é o mais antigo servidor da Prefeitura de Aracanguá na ativa?
Cutia – Dos funcionários remanescentes da prefeitura de Araçatuba, ainda somos em cinco em atividade, porém todos prestes a se aposentar.
Nossa Cidade – Desde quando responde pela Comunicação da Prefeitura? Como foi a transição de efetivo de um cargo, que ocupava outro por comissionamento e passar a ser efetivo na função de jornalismo?
Cutia – Como já citei anteriormente, comecei a responder pela Comunicação da Prefeitura em 2000, quando, mesmo sendo motorista efetivo, mas já formado em jornalismo, assumi o cargo comissionado na função de assessor de imprensa, onde permaneci por quatro gestões consecutivas. A transição ocorreu quando, em determinado momento, foi realizado um concurso público, e, após ser aprovado, fui efetivado na função de jornalista, deixando a posição comissionada. Essa mudança trouxe mais estabilidade e segurança, consolidando minha carreira no jornalismo público e permitindo que eu continuasse contribuindo de forma sólida com a comunicação da prefeitura.
Nossa Cidade – Como foi o convívio com prefeitos de correntes divergentes?
Cutia – Desde 1993, trabalhando na prefeitura de Aracanguá, tive a oportunidade de acompanhar de perto a gestão de vários prefeitos, cada um com visões e correntes políticas distintas. Essa convivência me proporcionou uma visão ampla das dinâmicas políticas e administrativas, além de reforçar a minha capacidade de adaptação e profissionalismo, independentemente das divergências entre os gestores. Isso também consolidou minha experiência e respeito no meio público ao longo dos anos.
Nossa Cidade – Quando surgiu a ideia da rádio comunitária e como foi a instalação?
Cutia – A ideia da Rádio Comunitária Evidência FM surgiu ainda na faculdade de jornalismo, entre os anos de 1996 e 2000, mas foi a partir de 2002 com a criação da ACADIC – Associação Cultural Aracanguaense de Difusão Comunitária – fundada por mim, com a finalidade manter a emissora, que o projeto tomou forma e se efetivou como uma proposta de dar voz à comunidade local de Santo Antônio da Aracanguá, a fim de criar um espaço de comunicação acessível, que pudesse divulgar notícias locais, cultura, e debates de interesse público.
A instalação da rádio se deu em julho de 2005, por meio de um processo colaborativo, envolvendo diversas pessoas da cidade. A estruturação inicial contou com o apoio da prefeitura e da comunidade, que viam a rádio como uma oportunidade de fortalecer os laços locais. Foram montados estúdios simples, equipamentos de transmissão adequados para o porte da emissora e uma equipe dedicada a levar o projeto adiante. A partir daí, a Evidência FM rapidamente se tornou um importante canal de comunicação e integração para a população.
Nossa Cidade – Como consegue manter a rádio e sempre investir em novos equipamentos. A colocando como uma das mais bem equipadas da região, mesmo não sendo comercial?
Cutia – A Rádio Comunitária Evidência FM se mantém e investe em novos equipamentos por meio de doações da comunidade, parcerias com empresas locais e projetos de financiamento coletivo. Além disso, a rádio recebe apoio de iniciativas culturais e educacionais que enxergam o valor da emissora como um canal de comunicação local. Esses esforços constantes permitem que a rádio, mesmo não sendo comercial, se mantenha entre as mais bem equipadas da região.
Nossa Cidade – Quando e onde fez a faculdade de Comunicação Social?
Cutia – Comecei minha formação acadêmica em Jornalismo em 1996, na cidade de Votuporanga. Durante esse período, eu já trabalhava na prefeitura, o que exigia uma conciliação entre os estudos e minha carreira profissional. A escolha pelo jornalismo se deu pela afinidade com a comunicação e o desejo de contribuir para o serviço público de forma mais efetiva, especialmente no setor de comunicação institucional.
Após concluir a graduação, decidi me especializar ainda mais e ingressei em um curso de pós-graduação na Unitoledo, em Araçatuba. A pós-graduação foi essencial para aprofundar meus conhecimentos e ampliar minha visão sobre o papel do jornalismo na administração pública. Essa formação sólida permitiu que eu passasse de um cargo comissionado para um cargo efetivo na comunicação da prefeitura, consolidando minha carreira como jornalista público.
Nossa Cidade – Que horas saia de casa e que horas retornava? Quantos quilômetros percorridos?
Cutia – Eu tinha uma rotina intensa de estudos durante a faculdade, saindo de casa às 17h e retornando 1h30 da manhã, após percorrer diariamente 220 km entre a ida e a volta da cidade de Votuporanga. Essa dedicação refletiu meu comprometimento com a educação e os desafios que enfrentei durante esse período.
Nossa Cidade – Hoje você é o porta-voz de Aracanguá. Faz leilão, é o pregoeiro de quermesses e outras festas beneficentes. Como você administra tudo isso sem despertar ciúmes da classe política?
Cutia – Como porta-voz de Aracanguá e atuando em diversas atividades, como leilões e eventos beneficentes, busco sempre agir com transparência e respeito. Acredito que a colaboração e a união em prol da comunidade são fundamentais. Ao trabalhar em equipe com diferentes setores e ouvir as necessidades da população, consigo promover um ambiente de cooperação, minimizando os ciúmes políticos. Meu foco é sempre o bem-estar da cidade e a promoção de iniciativas que beneficiem a todos. Além disso, mantenho um diálogo aberto com as lideranças políticas, esclarecendo que meu trabalho visa o interesse público e não o favorecimento de nenhuma corrente específica.
Nossa Cidade – Cogita ser candidato algum dia?
Cutia – Atualmente minha prioridade é contribuir para a comunidade através do meu trabalho como porta-voz e em eventos beneficentes. Embora eu valorize a política e a importância de um bom representante, não cogito ser candidato no momento. Meu foco é trabalhar em prol de Aracanguá e apoiar iniciativas que beneficiem a todos. Se um dia eu decidir seguir esse caminho, será com o compromisso de servir à população da melhor forma possível.
Nossa Cidade– É casado? Tem quantos filhos?
Cutia – Sou casado com minha amada Silvana Boldrini Joia dos Santos. Tenho duas filhas que são partes essenciais da minha vida, porém minha esposa e eu não tivemos filhos juntos, mas temos uma sobrinha que criamos como se fosse nossa filha.




É meu irmão Sebastião José dos Santos (cutia) obrigado e agradeço a Deus pela sua vida e de vc ser orgulho de nossa família 👪 parabéns meu irmão que Deus abençoe sua vida sempre te amo muito 🙏🏽🙏🏽😘🥰
Obrigado pelo carinho e apoio.
Sensacional
Impactante
Emocionante
Parabéns ao veículo pela reportagem com meu colega Cutia. Tive a honra de trabalhar com ele durante mais de 25 anos quando meu jornal A Gazeta da região ainda estava em circulação. Uma pessoa de grande profissionalismo! Parabéns Cutia pelo reconhecimento. Aracanguá merece saber da sua brilhante trajetória.
Bela trajetória de vida meu amigo, só faltou falar da boêmia, regada a muita cachaça, as flechas no peito nem vom falar né deixa pra lá kkkk. Parabéns pela matéria Crispim.
eeee Cutia, como não se emocionar com toda essa trajetória, não tem como contar a história de Aracanguá sem citar o Sebastião José dos Santos. Desde da minha infância, vejo o Cutia em todas as cerimônias de formatura, leilões, quermesses e outras. Costumo dizer, se o evento é importante vai ser o Cutia que vai fazer. Além de tudo é um grande historiador que quando narra, emociona e trás para todos uma lembrança da antiguidade como se tivesse vivenciando aquele momento. Que Deus continue abençoando sua vida. Parabéns você é merecedor. Saiba que minha família tem apreço por você.