Mosteiro Paraíso representa a persistência do padre Nilton e a religiosidade da população
Capela São José do Paraíso faz parte da história do município; área dos agromonges foi comprada pela população
ANTONIO CRISPIM – TORRINHA
A última etapa da viagem foi a visita ao Mosteiro Paraíso – os agromonges. A denominação foi criada pelo padre Nilton Antonio Marques, idealizador da iniciativa. Todo o projeto tem apoio da população católica de Torrinha. No local há um salão de festa onde são realizados casamentos e outros eventos, além de uma cafeteria. Tudo como forma de manter o local.
Natural de Guaratinguetá, no Vale Do Paraíba, Nilton Antonio Marques veio para a região ainda criança. A família residia em Santa Lúcia. Ele estudou em Araraquara. Depois de uma infância desafiadora, ingressou no seminário aos 17 anos. Aos 26 anos, em 15 de agosto de 1980, foi ordenado padre em Rincão, onde ficou até 1988. De lá foi para Torrinha, onde permanece até hoje, estando plenamente integrado à comunidade.
Com a tranquilidade dos monges, contou aos visitantes a história da Capela São José do Paraíso. Em 1918, Celeste Vaccari comprou uma grande extensão de terras na região do Paraíso e, como católico, mandou construir a capela, que levou o nome de São José do Paraíso. A capela foi inaugurada em 1921. Portanto, tem 104 anos.
A crise do café iniciativa no fim dos anos 1920 refletiu no local e muitos cafezais foram queimados. Em 1940/1950, foi construída a torre da capela. Nas décadas de 1960 e 1970, o êxodo rural, com migração para grandes centros industriais, novamente atingiu a região. Isso acabou refletindo na estrutura agrária. As grandes fazendas desapareceram e surgiram pequenas propriedades. Na região hoje são 75 propriedades que se dedicam ao cultivo do café.
Como pároco do município a partir de 1988, padre Nilton tinha como missão celebrações nas capelas. Ele acabou levando a proposta para comprar a área próxima à Capela São José do Paraíso. As famílias se dividiram em 12 grupos. Cada grupo ficou responsável pelo pagamento de uma parcela. Assim foi comprado um alqueire em 12 parcelas.
Semanalmente ele ia para o local com um diácono para começar o trabalho. Para quem nunca tinha plantado, era um desafio. Depois compraram mais um alqueire. Com o local se consolidando, ele quis morar na área. Mas diante da escassez de padres, a Diocese não permitia. Não tinha como deixar um padre cuidar de uma capela e atender dezenas de famílias, enquanto paróquias com milhares estavam sem pároco.
O trabalho continuou e a persistência do padre Nilton também. Até que o bispo permitiu que fosse morar no local. Nos primeiros anos ficou sozinho e não tinha carro para ir para a cidade. Dependia de carona. Assim foi constituída a Fraternidade Apresentação do Senhor.Hoje são quatro monges. Por estarem em uma região rural, foram denominados agromonges.
Hoje são quatro capelas – São José do Paraíso, da Ressurreição, do Encontro e da Figueira. Há também jardins e muitos símbolos religiosos.Tudo feito sob coordenação de padre Nilton. Há um salão de festas e há celebrações como a Missa Cio da Terra, em agradecimento à colheita. A missa é celebrada sempre no fim de novembro.
Pelo que representa para a comunidade de Torrinha, padre Nilton já foi homenageado com um bonecão.
O mosteiro recebe eventos religiosos da diocese, como encontros de padres, curso diaconal e outros. Porém, é uma referência para a população de Torrinha.