Calça-cagada
Hélio Consolaro
Participei da Feira do Livro de Birigui no último sábado a convite da Editora Pindorama. O evento foi realizado no Instituto Federal, escola pública do município. Lá houve a palestra do presidente da Academia Biriguiense de Letras: Deidimar Alves Brissi, professor de Física (não é Educação Física) preocupado com a cultura e com as letras. Título: valorização da cultura caipira como ato decolonial.
A cultura caipira está no contexto paulista, mas esparramou pelo Brasil pela chamada Paulistânia, região brasileira com influência de São Paulo. Deidimar chama de calça-cagada o sujeito sem personalidade, sujeito que veste a calça e fica com a cueca à mostra. Brasileiro carregado de vira-latismo, expressão inventada pelo escritor Nélson Rodrigues, que valoriza mais as coisas estrangeiras em detrimento das nacionais: colonialismo herdado dos portugueses.
Nomes de produtos brasileiros com palavras estrangeiras, denominações de arranha-céus com nomes em inglês, como se fosse valorizar o produto é uma prática de marqueteiros coloniais.
No começo do século 20, final do 19, era modo a elite intelectual falar francês e viajar para Paris. Havia a matéria “francês” no currículo escolar no ginásio. Após a Segunda Guerra Mundial, com a hegemonia norte-americana, o inglês passou a ser tratado como uma língua universal.
Seguindo a tendência atual, o vira-latismo e a língua predominante mudará de parâmetro: será o mandarim (idioma chinês). Imitar os outros é nossa sina, não é mesmo, calça-cagada!