Polícia Civil instaura inquéritos para investigar jornalistas e veículos de comunicação
Dois delegados e um jornalista com atuação na região de Araçatuba estão envolvidos nos inquéritos
ANTÔNIO CRISPIM – ARAÇATUBA
Nos últimos dias repercutiu em vários veículos de comunicação inquéritos policiais instaurados pela Polícia Civil de São Paulo para investigar jornalistas e veículos de comunicação que publicaram reportagens sobre delegados. Coincidentemente, mesmo em casos distintos, dois delegados com passagens pela região de Araçatuba, Carlos Henrique Cotait e Fábio Pinheiro Lopes, o Fábio Caipira. Já o jornalista é Roberto Alexandre dos Santos, que atua há aproximadamente 30 anos na imprensa de Araçatuba. Outro jornalista é Allan de Abreu (Revista Piauí) e Luiz Vassalo, do Metrópoles. Os veículos alvo dos inquéritos são o portal Metrópoles e a Revista Piauí. Entidades representativas de jornalistas emitiram notas criticando os inquéritos, entendendo ser uma forma de cercear a liberdade de imprensa.
Os dois casos não têm qualquer ligação. O único ponto em comum é que as duas ações envolvem profissionais da região, tanto delegados como jornalista.
O caso do jornalista Roberto Alexandre dos Santos, ganhador de categoria especial do Prêmio Esso de Jornalismo, um dos mais importantes do país, refere-se ao ao delegado Carlos Henrique Cotait, durante muitos anos coordenador do Sipol (Serviço de Inteligência Policial de Araçatuba) e depois chefiava a Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Araçatuba e que desfrutava de plena confiança da cúpula da Polícia Civil na região. Os problemas começaram a surgir a partir da Operação Raio X, que investigava desvios de verbas da saúde por organizações sociais – OSS Santa Casa de Birigui e Santa Casa de Pacaembu. Muitas pessoas foram condenadas.
Com apoio de Roberto Alexandre dos Santos, Allan de Abreu fez a reportagem “O hacker e o delegado”, na qual relatava que Carlos Henrique Cotait teria usado os serviços de um hacker durante as investigações da Operação Raio X. A reportagem foi publicada em 2023. Em 2024, durante visita a Bauru, o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, anunciou o afastamento de Cotait da Deic de Araçatuba. A decisão surpreendeu policiais de Araçatuba. Não há informações sobre a conclusão dos trabalhos feitos pela Corregedoria da Polícia Civil. O fato novo foi a instauração do inquérito para investigar a Revista Piauí e os jornalistas Allan de Abreu e Roberto Alexandre dos Santos, que acabou figurando nas Operações Raio X (desvio na súde) e Ligações Perigosas, que investigava o envolvimento de políticos de Araçatuba com o crime organizado. Agora, os jornalistas Allan de Abreu e Roberto Alexandre dos Santos e a Revista Piauí, são investigados,
O outro caso ocorreu no ano passado, quando o delator do PCC, Vinícius Gritzbach, foi executado a tiros no Aeroporto de Guarulhos. Na ação, outra pessoa morreu. Nas investigações tornou público que um advogado teria pedido dinheiro ao delator para subornar policiais que investigavam outro crime. O advogado não apresentou provas e tampouco o delator, mas foi citado o nome do delegado Fábio Pinheiro Lopes, o Fábio Caipira. Sem qualquer apuração preliminar, o delegado que chefiava o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) foi afastado pelo governador Tarcísio de Freitas.
No início da carreira, Fábio Pinheiro Lopes atuou na delegacia de Lavínia. Além disso, era da região de Presidente Prudente. Desta forma, sua carreira foi acompanhada por policiais da região que sempre o viam como policial exemplar. Um exemplo a ser seguido. Porém, ele continua afastado. Este ano, o jornalista Luiz Vassalo, do Portal Metrópoles, fez uma ampla reportagem sobre o patrimônio do delegado. O jornalista e o portal estão sendo investigados.
Afastamento dos delegados
Os dois delegados, que desfrutavam de prestígio dentro da instituição, foram afastados sumariamente sem qualquer justificativa ou apresentação de documentos. Passados vários meses, continuam afastados de seus cargos, embora não seja divulgada qualquer decisão sobre apurações.
A reação foi os inquéritos para investigar jornalistas e veículos de comunicação. Por isso, entidades como a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, entre outras, se manifestaram contra os inquéritos instaurados, entendendo ser uma forma de cercear a liberdade de imprensa.