Opinião

A fé que move montanhas

CINTHYA NUNES

O texto de hoje é um testemunho. Nem sempre minha fé é do tamanho que eu gostaria, mas se basta que seja como o grão de areia, sei que nunca me desviei de acreditar em um Deus de amor, na esperança que move os sonhos, as preces, os anseios da minha humanidade.

Cultivo o hábito de agradecer à vida, na certeza de que muitos vivem em sofrimento, em desespero. Na rotina dos dias, não raras vezes, acabamos nos esquecemos das graças vivenciadas, muitas delas, inclusive, resultado de orações pretéritas. Termos o alimento à mesa, a companhia de quem amamos, saúde e paz, são tesouros que ficam em evidência quando um deles nos ameaça escorrer pelos dedos.

Aqueles que acompanham minha escrita, o que venho fazendo semanalmente há mais de vinte e cinco anos, bem sabem o amor que tenho pela natureza e pelos animais. Cuido daqueles que me dão a honra da companhia, sem medir esforços. Uma de minhas cachorras, a Gigi, hoje com cinco anos, desde os onze meses toma remédios para epilepsia, duas vezes ao dia, rigorosamente. Graças aos vários cuidados, vive uma vida plena, cheia de alegria, carregando pela casa seus bichinhos, os quais joga aos nossos pés, convidando-nos a brincar.

É um animal doce e amoroso. Gulosa, come qualquer coisa que surgir pelo caminho, razão pela qual está sempre um pouco acima do peso, apesar dos meus esforços. Adora correr e pular, certa de que tem amortecedores ou asas. E após um desses voos, eu a encontrei mancando, sem encostar uma das patinhas no chão. Não foi a primeira vez, porém. Tentei as manobras já conhecidas para recolocar as coisas em seus devidos lugares, mas em vão.

O veterinário, nosso amigo de décadas, habituado aos fatos, aplicou-lhe uma injeção e medicação. Se não melhorasse, talvez fosse cirúrgico. Na hora fui abatida pela tristeza, pois para Gigi é sempre um risco, tendo-se em vista seu histórico de saúde. Admito, sem pudores, que chorei. Chorei porque ainda espero tê-la por perto por longos anos, desfrutando da alegria que ela esbanja, do conforto que é tê-la ao meu lado durante todo o tempo que estou em casa.

E no meio do meu pranto, roguei a Deus por ela. Lembrei-me, não sei direito a razão, de que, há quase um ano, ao conhecer a cidade de Assis, na Itália, após visitar a Igreja onde se encontram os restos mortais de São Francisco de Assis, meu Santo de Devoção, visitei outra igreja, onde conheci, pela primeira vez, a história do Beato Carlo Acutis. Morto aos dezesseis anos, em decorrência de uma leucemia, o jovem se tornou conhecido pelos milagres e seu processo de canonização está em curso. Os restos mortais, envoltos por uma camada de silicone que lhe restituiu as feições, está exposto aos seus já muitos fiéis.

Então, no momento da minha tristeza, da minha preocupação, dirigi a ele uma prece, pedindo pela minha Gigi, certa de que todos os seres vivos são filhos do mesmo Criador.  Pedi a graça de vê-la bem, sem necessidade de uma cirurgia que poderia custar-lhe a vida. Agora, enquanto escrevo, ela está aqui, ao meu lado, perfeita, como se nada tivesse acontecido, após uma corrida com o Pateta, arrastado pela boca.

Este texto, assim, é meu agradecimento pela graça alcançada, tal como prometido. Fé não se explica, não se justifica. Tampouco espero que me entendam, mas eu precisava agradecer. Obrigada Carlo Acutis, por levar até Francisco de Assis, até Nossa Senhora, o meu pedido, repleto do amor que os animais, bem como as pessoas que amo, inspiram em mim. Minha fé, areia no mundo e no tempo, se não move sempre as minhas montanhas, fornece-me as forças para contorná-las. Gratidão…

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e acredita em Deus Pai – cinthyanvs@gmail.com/www.escriturices.com.br

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