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Provedor da Santa Casa de Araçatuba fala sobre desafios, quer aumentar receitas e fazer transplante de rim

Everton Santos é o mais jovem provedor da história quase centenária da instituição; sabe das dificuldades a serem enfrentadas, mas também reconhece e valoriza as potencialidades do hospital

ANTÔNIO CRISPIM – ARAÇATUBA

No dia 13 de junho a Santa Casa Araçatuba realizou assembleia do conselho, culminando com a eleição da nova diretoria. O advogado Everton Henrique dos Santos Silva, de 31 anos, foi eleito provedor e começou fazendo história: é o 23º provedor e o mais jovem da quase centenária instituição. Isso, no entanto, não o impede de reconhecer o tamanho do desafio a ser enfrentado e, tampouco, reconhecer a potencialidade da instituição que ele conhece tão bem. Há aproximadamente 15 anos ingressou na Santa Casa como auxiliar de contabilidade. Foi o primeiro emprego com carteira assinada e galgou postos. Deixou o trabalho para dedicar-se aos estudos e depois voltou, a convite da então tesoureira Maria Ionice Zucon (hoje vice-prefeita), como voluntário e conselheiro. Agora é provedor.

Mesmo conhåecendo a Santa Casa há aproximadamente 15 anos, Everton Santos dedicou os primeiros dias de gestão para ter conversas com diferentes grupos internos. Ela sabe que precisa do apoio e do empenho de todos para que a Santa Casa supere os problemas atuais. Na sua  avaliação, este é o pior momento da instituição em toda a sua história. “Atravessamos o Rubicão. Não tem retorno”, disse ele, em referência a Júlio César, que em 49 a.C. atravessou o Rio Rubicão com suas tropas, o que era proibido pelo  Império Romano. Desde então, a frase passou a ser usada quando alguém toma uma decisão ousada, sem retorno.

Na terça-feira de manhã, Everton Santos recebeu a reportagem do portal Nossa Cidade (nossacidade.online) quando falou sobre seus planos para a gestão da Santa Casa. Advogado atuante e que fez concurso para juiz, passando na primeira fase, Everton disse que vai dedicar o período matutino ao trabalho na Santa Casa, mas isso não impede que estenda esse horário ao longo do dia, quando necessário.

“Assumir a Santa Casa foi desafiador. Administrar receita é uma coisa. Aqui administramos dívidas. Você escolhe quem vai pagar. É um desafio enorme, que vai exigir capacidade de gestão e reestruturação. Estamos fazendo um diagnóstico organizacional, que tem como objetivo encontrar sobreposições, se o pessoal que temos é compatível com o serviço que executamos. Se há serviços que devem ser reformulados para que o modelo seja mais eficiente. O objetivo é reduzir despesa. É, mas também encontrar oportunidade de negócios que permita à Santa Casa aumentar as suas receitas. Embora prestamos serviço público, não podemos esquecer que a entidade é uma associação privada. Não visa lucros. Mas sempre que possível precisa apresentar superávit. Tem que ter sustentabilidade. É isso que a gente busca”, disse Everton Santos, reforçando que não concorda com a lógica de que o hospital, por prestar serviço público, pode dar prejuízo.

Para o provedor, isso é possível. Ele destacou o quadro de colaboradores, “que sabe fazer e uma diretoria qualificada, com bons nomes, com corpo dirigente muito sólido”. “Nosso grupo é coeso. Nosso grupo está junto e absolutamente comprometido com a entrega do resultado”, acrescentou.

Segundo o provedor, a Santa Casa tem receita mensal que oscila entre R$14 milhões e R$15 milhões e despesa entre R$17 e R$18 milhões. O déficit mensal é da ordem de R$ 3 milhões. A instituição tem 1.850 funcionários, sendo que 1,2 mil são da área de enfermagem, ligados diretamente à assistência aos pacientes. “Tem o piso da categoria e o complemento do estado. Precisamos valorizar esses profissionais, que trabalham muito˜, acrescentou o provedor.

 

Reduzir despesa e aumentar receita

Equilibrar as finanças é um dos principais desafios da nova diretoria. De acordo com o provedor Everton Santos, atualmente a Santa Casa atende 94% SUS (Sistema Único de Saúde).”Se nós reduzirmos este número de atendimento SUS (percentual) para algo em torno de 80% e aumentarmos o atendimento no particular ou nos convênios, nós temos condições de melhorar nossa capacidade de geração de caixa”, disse o provedor, explicando que quando diz aumentar particular e convênio e reduzir SUS, não se refere a números absolutos, porque vai continuar prestando o serviço, mas sim melhor o percentual, aumentando o atendimento nos convênios.

Para exemplificar, citou o convênio  com o Iamspe (Instituto de Assistência Médica do Servidor Público Estadual). “Tínhamos convênio com o Iamspe, que apresentou alguns problemas de faturamento e pagamento. Este convênio foi encerrado. Mas não podemos esquecer que o paciente que antes vinha pelo Iamspe, que tinha uma tabela um pouco melhor, que não era o ideal, mas pagava de forma diferenciada, hoje vem pelo SUS. De qualquer maneira nós estamos atendendo este paciente. O SUS está pagando. O diferencial é que o SUS paga até um teto, paga até um certo limite. Eu pretendo discutir a ampliação da nossa participação nos convênios. Ver com todas as operadoras de plano de saúde o que a gente pode fazer em termos de tabela, em termos de contrato, em termos de serviço que a Santa Casa presta. Já que pretende ampliar a receita e melhorar a operação da entidade, não podemos descuidar da nossa infraestrutura. A Santa Casa tem um hospital com 330 leitos, com diversos serviços funcionando em média e alta complexidade, vocacionado à alta complexidade. Precisamos focar nisso. Precisamos saber como vai ser essa estrutura instalada para atender à nova demanda.

 

Débito milionário da Santa Casa

O provedor disse que o débito total da Santa Casa é da ordem de R$245 milhões. Deste total, R$110 milhões referem-se a um empréstimo consignado contraído junto à Caixa Econômica Federal. O débito é feito diretamente na conta SUS. Ou seja, quando o governo paga, já é feito o desconto. O restante – R$135 milhões – é de passivo trabalhista, prestadores de serviço, empresa de pequeno porte, microempresa, médicos e outros.

 

Planos para o futuro do hospital 

Mesmo com os problemas do presente, o provedor Everton dos Santos faz projeções para o futuro. Não esconde que pretende trabalhar para introduzir o transplante renal. “Hoje coletamos tecido, órgãos. Isso atende à demanda regional. O hospital tem capacidade técnica para a gente avançar e conseguir realizar a segunda milha, que seria ser um Hospital do Rim pujante, com equipe multiprofissional altamente qualificada.  Por que não fazermos o transplante renal aqui? Tem a doença renal crônica com índice elevado na região. Em Araçatuba fazemos a hemodiálise e a diálise peritoneal. Há outros procedimentos, como o transplante renal”, reforçou o provedor, enfatizando que pretende fazer todo o possível para que o procedimento seja introduzido. 

“Meu mandato é de dois anos. É um mandato que eu espero seja reformista. De alguma maneira nós temos condições de  fincar as bases de um projeto estruturante de longo prazo. Quero ter ambição, mas isso precisa ser realista. Precisa ser factível. No momento o que preciso é colocar as condições necessárias para esse projeto estruturante maior”, acrescentou.

 

Conta com o apoio da sociedade

Everton dos Santos disse que conta com o apoio da sociedade de Araçatuba. “Conto com o apoio da população. Conto com a compreensão. Vamos passar  por momentos difíceis. Mas que nós não percamos a fé e a esperança. Tempos melhores virão. Decisões difíceis terão de ser tomadas e essa diretoria está comprometida a tomar todas as decisões difíceis que tiverem pela frente. Nós não vamos nos furtar do dever de fazer as reformas necessárias e entregar para a sociedade a missão institucional que não começou comigo. Começou há 98 anos, com gente que sonhou em dar uma saúde de qualidade à população, com uma comunidade portuguesa, que tinha o sonho de entregar uma saúde de qualidade para seu povo. É isso que temos aqui. Somos filantropos, beneméritos. Não temos vantagem nenhuma. Por que estamos aqui? Porque temos um sonho. Meu sonho é deixar um legado de sair dessa narrativa triste, que eu vejo muitas vezes, de que o serviço não foi a contento. Precisamos romper este quadro. Começar a veicular coisas boas. Bons resultados. E tem potencial para isso”, finalizou o provedor Everton dos Santos.

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