Opinião

Entre vulcões e balões

CINTHYA NUNES

Nas últimas semanas, notícias sobre acidentes fatais envolvendo turistas brasileiros, em território nacional e no exterior, chocaram o Brasil.  Em Santa Catarina, na cidade de Praia Grande, um balão com vinte e uma pessoas pegou fogo por conta de um maçarico, despencando pouco após deixar o chão.  Treze feridos e oito mortos foi o triste saldo do passeio.

Pelo que li até o momento, as exatas causas do acidente continuam indeterminadas, mas as investigações buscam verificar se os equipamentos, sobretudo o maçarico, estavam em ordem, bem como se o piloto agiu de acordo com os protocolos aplicáveis. De uma forma ou de outra, nada trará de volta as vidas perdidas.

Na Indonésia, uma jovem brasileira, de 26 anos, fazia uma trilha no monte Rinjani, ao redor de um vulcão. Segundo o que li, ficou cansada, pediu para descansar e foi deixada sozinha pelo guia, que seguiu com os demais turistas. Quando o guia retornou, não a encontrou mais. Ninguém agora saberá ao certo, mas ao que consta, ela tentou seguir caminho e escorregou, caindo em um penhasco.

Quando, por fim, foi localizada, aparentemente viva, estava centenas de metros de distância, com difícil acesso do resgate. Não sabemos se ela, Juliana, ficou aguardando, viva e consciente, com dor, frio, sede, fome e medo, o resgate que não chegou em tempo. No quinto dia após o acidente, somente o seu corpo foi recuperado. A Indonésia, criticada pela precariedade da segurança nas atividades turísticas e na ineficiência do socorro, apresentou laudo necroscópico informando que a jovem morreu na hora, vítima dos ferimentos da queda.

Tenho lido muita coisa sobre esses acidentes. Há quem afirme que as pessoas se colocaram em perigo voluntariamente. De certo, são atividades de risco, mas, se pensarmos bem, uma viagem área também é. Admito que não sou fã de esportes radicais, mas viver é radical. Podemos atravessar a rua, escorregar no banheiro, ter uma forte emoção vendo televisão. Estamos por aqui até não estarmos.

O que me assombra é a falta de empatia de alguns. Como se, pelo fato das pessoas estarem se divertindo, devessem ser punidas por não estarem completamente a salvo. Podemos e penso que devemos, questionar a segurança de muitas atividades turísticas e de entretenimento, sobretudo quando se trata de algo explorado economicamente, mas pelo bem das pessoas e não para atacá-las.

Eu espero, sinceramente, que o laudo médico da Indonésia seja idôneo, pois é muito triste imaginar que a pessoa viva, com dor, medo, sozinha por dias, em completo desalento, no meio do nada. Sempre tenho receio da injustiça de atribuir responsabilidades sem dados concretos, mas, em um caso e em outro, é preciso, no mínimo, fazer-se reflexões importantes. Dentro do nosso país, podemos lutar por regulamentação e maior fiscalização, pelo bem de todos e pela memória de quem se foi, além, é claro, de punir os responsáveis.  Nos demais países, vale deixar de visitá-los enquanto não respeitarem a vida humana, sem prejuízo das sanções cabíveis.

O mundo é um lugar lindo e a experiencia de viver é sensorial, acima de tudo. Queremos explorá-lo, conhecer a belezas da natureza, mas não podemos nos esquecer de nossa fragilidade, mortalidade e empatia. De muitas formas, o outro sou eu. Meus sinceros sentimentos aos familiares.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e o mais radical que faz é viver –cinthyanvs@gmail.com/www.escriturices.com.br

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