Com Juninão descentralizado, Prefeitura economiza e aproxima a festa da população
Pelo antigo formato, custo estimado era de R$ 1 milhão; descentralizada, festa pode ter despesa de R$ 200 mil; Michel Teló e Grupo Tradição custaram mais de R$ 400 mil aos cofres públicos no ano passado
ANTÔNIO CRISPIM – ARAÇATUBA
O mês de junho está terminando e, com ele, as tradicionais festas juninas, tão importantes para economia de dezenas de cidades do Nordeste brasileiro, onde este tipo de comemoração é mais tradicional e chega a aproximar-se do Natal, em termos de importância. Em São Paulo as festas juninas vêm ganhando mais importância e Araçatuba não fugiu à regra. O governo de Dilador Borges Damasceno introduziu o “Arraiá da Solidariedade” ainda no primeiro governo, sempre realizado durante dois dias em um fim de semana, no mês de junho. Já o governo de Lucas Zanatta optou por mudar o formato, realizando o “Juninão pela Cidade”, com eventos em diferentes pontos do município.
Por ser o primeiro ano do governo de Lucas Zanatta, as comparações são inevitáveis. Para alguns, o novo prefeito acertou em reduzir os gastos e mudar a forma de promover o evento, levando a festa para mais próximo do cidadão. Pessoas ligadas ao antigo governo não pouparam críticas à atual administração. Porém, Zanatta tem quem o defende. O ex-vereador, ex-secretário de Cultura e professor aposentado, Hélio Consolaro, em sua coluna Blog do Consa, após tecer comentário sobre os dois tipos de festa, foi direto ao ponto: “Outro dia eu disse para um seguidor do ex-prefeito: ambos são políticos de direita, mas o Dilador é um grande centralizador, só ele mandava, e o Zanatta descentraliza as decisões. Para o ex-prefeito Araçatuba só existe no centro”, escreveu o escritor, cronista e jornalista Consolaro.
CRESCIMENTO DA FESTA
A festa organizada por Dilador Borges Damasceno cresceu ano a ano. As entidades assistenciais eram convidadas a montar barracas. Em 2024, último ano do governo Dilador (e ano eleitoral), foi um grande show. No dia 21 (sexta-feira), Michel Teló e no dia 22 (sábado), o Grupo Tradição. Atraiu muita gente, inclusive pessoas de outras cidades da região.
MUDANÇA DE FORMATO
A reportagem do portal Nossa Cidade (nossacidade.online) questionou a Prefeitura sobre a mudança de formato. “A decisão de descentralizar o Juninão partiu do entendimento de que as festas juninas são uma manifestação cultural muito querida e enraizada no imaginário afetivo das pessoas. Ao levar essas celebrações para bairros, foi possível ampliar a participação da comunidade e valorizar cada bairro e as pessoas que o habitam. Durante o mês de junho, diversas ações com temática junina foram realizadas dentro da programação da Secretaria Municipal de Cultura, que tem o objetivo permanente de cultivar hábitos culturais na população˜, informou a Prefeitura, explicando que no museu foram cerca de 120 pessoas no Tarde Encantada, voltada ao público infantil, foram aproximadamente 150 pessoas. No São José foram entre 400 e 500 pessoas.
A festa está continuando neste fim de semana com o Sexta no Tom – Edição Junina e a Festa na Fazenda, neste sábado (28/6), ambos com grande público. Neste domingo (28/6) ainda haverá a realização do Juninão no Bairro Alvorada.
“Esse novo formato amplia o acesso, acolhe diferentes públicos e transforma a festa em uma verdadeira rede de encontros comunitários — em vez de um único grande evento, temos várias celebrações espalhadas pela cidade, com o mesmo carinho, identidade e alegria. Essa mudança representa mais do que uma nova forma de fazer festa: é uma maneira de democratizar o acesso à cultura e fazer com que a alegria, a música e as tradições juninas estejam presentes onde o povo está”, acrescentou a Prefeitura.
Quanto ao custo do evento, a administração informou que modelo anterior, centralizado em uma grande estrutura, o custo estimado era de cerca de R$ 1 milhão. Com o novo formato descentralizado, a previsão de investimento não ultrapassa os R$ 200 mil — contemplando todas as ações do mês de junho. “Mas é importante lembrar: mais do que reduzir custos, o foco foi ampliar a presença da cultura nos bairros, promover encontros, valorizar as comunidades, criar novas experiências de pertencimento e principalmente dar visibilidade aos nossos artistas, já que a programação é formada por artistas da cidade”, enfatizou a nota.
Sobre a economia feita, o dinheiro será investido em ações culturais. “No modelo anterior, os recursos vinham principalmente das secretarias de Cultura e Assistência Social e do Fundo Social de Solidariedade. Para a Secretaria de Cultura, essa mudança abre a possibilidade de investir em ações contínuas e descentralizadas, que promovem o desenvolvimento humano por meio da arte”, acrescentou a administração. “Um exemplo é o Programa Circulaê, que foi criado nesta gestão e tem como objetivo levar para diversos bairros apresentações, oficinas e atividades para todas as idades. O programa não existia antes e já superou todas as expectativas, mostrando que a cultura pode (e deve) estar presente no cotidiano das pessoas, fortalecendo laços, identidades e oportunidades. A Administração Municipal acredita que descentralizar não é apenas uma escolha logística, mas uma decisão política e sensível, que coloca a população no centro das políticas públicas de cultura”.
“Na Assistência Social, economias como essa ajudam a investir na capacitação de funcionários, na estrutura e funcionamento da secretaria, resultando em melhorias no atendimento à população. Com relação ao Fundo Social, essa verba poderá ser investida em cursos de capacitação para geração de renda, além de estender o polo educacional para bairros da periferia”, concluiu.
ESTRUTURA DE GRANDE ESPETÁCULO
O governo de Dilador Borges Damasceno investiu alto na organização do Arraiá da Solidariedade do ano passado.
Levantamento feito no Portal da Transparência aponta pagamento de R$346.400,00 à empresa Lighting Decor (empresa de Araçatuba) para decoração da Praça Rui Barbosa. A empresa foi contratada mediante pregão eletrônico. A Prefeitura gastou mais de R$340 mil apenas pela decoração por dois dias de festa. O pagamento foi efetivado no dia 27 de agosto.
O show de Michel Teló foi contratado junto à Teló Shows (empresa de Campo Grande), com inexigibilidade de licitação, por R$340 mil. O valor foi pago no dia 21 de junho, dia da apresentação do artista. Também no dia 21 de junho, a Prefeitura pagou R$62 mil à WPD Representações Artísticas (empresa de Campo Grande) pelo show do Grupo Tradição, que se apresentou no dia 22 de junho.
Apenas com a decoração e os dois shows, o município de Araçatuba pagou quase R$750 mil por dois dias de festa.