Adulterações revelam o descaso do Estado
Nas últimas semanas a população de São Paulo e de outros estados brasileiros foi surpreendida por ações de vários órgãos oficiais para combater adulterações e fraudes. Primeiro foi de combustível e, mais recentemente, de bebidas alcoólicas. Os dois casos revelam que a sociedade é deixada à própria sorte. O Estado falha quando não cumpre o seu papel de fiscalizar e nem mesmo de zelar por sua arrecadação. Fraudes e adulterações, quando não resultam em graves problemas de saúde e até mortes (o que é mais grave), atingem diretamente a economia, pois destroem a capacidade de competir. Como um posto que age dentro da legalidade e com preços reais pode competir com quem frauda e adultera os produtos? Impossível. Da mesma forma, um estabelecimento que compra os produtos de forma legal não tem como competir com aqueles que fazem da falcatrua e dos negócios ilegais uma forma de vida.
A presença do crime organizado em postos de gasolina é antiga. Há pelo menos 10 anos algumas fontes da polícia já abordaram este assunto. No entanto, somente agora houve decisão dos governos em combater as fraudes, já que as teias do crime organizado ampliaram para outros setores. Quando o estado não age com rigor, é a sociedade que paga o preço desta omissão. Há alguns anos órgãos do Estado como a Receita Estadual, Ipem e Polícia realizavam a Operação de Olho na Bomba para combater fraudes tributárias, volumétricas e de adulterações. No entanto, tais medidas foram colocadas de lado e durante anos o setor atuou com menos rigor nas fiscalizações. O resultado todos viram.
No entanto, não pode ser esquecido que milhões de clientes, durante anos, foram ludibriados e enganados pagando por produtos de péssima qualidade. Aqueles que agiam corretamente, sofreram com a concorrência desleal. Ou seja, a omissão do Estado foi estímulo à malandragem e à desonestidade.
Poucas semanas depois da operação que combateu fraudes em postos de combustíveis e outros setores da economia, pessoas foram hospitalizadas por contaminação por metanol e duas morreram. O que chamou a atenção foi que em pouco tempo depois das informações de contaminação, os órgãos de fiscalização localizaram adegas, destilarias clandestinas e distribuidores, resultando na apreensão de mulheres de rótulos e lacres irregulares. Muitos estabelecimentos foram interditados. Tem-se a nítida impressão de que todos sabiam como o esquema funcionava, mas como não tinha problema de saúde, deixa acontecer. Lamentável.
A adulteração de bebidas sempre foi um problema sério, mas que não despertava a atenção das autoridades. Bebidas comercializadas sem nota. Tudo tolerado. Só virou problema grave devido à contaminação por metanol. Se não fosse isso, o consumidor continuaria consumindo gato por lebre diante da inércia do estado e da volúpia de comerciantes desonestos.
Agora os governantes querem mostrar serviço. Mas foram omissos durante anos, deixando a sociedade largada à própria sorte e à mercê de comerciantes desonestos. Isso desestimula a concorrência e o comércio sério, seja em que área for.
