Por que a rodovia não foi fechada: morte de músico em queda de árvore na Washington Luís causou comoção e questionamentos
Raphael Cardoso Bellarmino, de 34 anos, estava em lua de mel e veículo foi atingido por uma árvore que caiu na pista. O acidente poderia ter sido evitado?
ANTÔNIO CRISPIM – ARARAQUARA
Por que a rodovia não foi fechada antes do acidente? O que realmente aconteceu? O acidente poderia ter sido evitado? Estes são questionamentos feitos por muitas pessoas, tanto nas rodas de amigos, conversas familiares e em redes sociais. Cada um tem o seu pensamento e não faltam palpites. Uma coisa é certa, a morte de Raphael Bellarmino, em plena lua de mel e pelo seu passado, comoveu pessoas não apenas de Taquaritinga, onde foi sepultado na terça-feira (7), mas em toda a região. O acidente foi no fim da tarde de domingo (5), no quilômetro 261, próximo ao Chibarro, em Araraquara (pista sentido interior). Para tentar esclarecer todas as dúvidas, a reportagem do portal Nossa Cidade (nossacidade.online) trabalha desde domingo. Esteve no domingo durante o fechamento da rodovia, manteve contatos na segunda-feira, foi ao local do acidente na terça-feira e buscou informações junto à concessionária e ao 3º Batalhão de Polícia Militar Rodoviária.
No domingo (5), quem transitava pela Washington Luís, pouco antes das 17 horas, antes do início da descida do Chibarro já era possível ver a densa coluna de fumaça. Por volta das 17h10, o trânsito foi completamente parado e assim permaneceu. Quem estava na fila nõ sabia o que estava acontecendo. As pessoas viram chegar e abriram passagem para unidade de Resgate dos Bombeiros e da concessionária e veículos autobomba dos bombeiros e da concessionária, além de viatura policial. Pouco antes das 18h30, o trânsito foi liberado, mas apenas na pista da esquerda. Ao passar pelo local do acidente, foi possível ver o carro do músico no acostamento e equipes trabalhando ainda para combater o fogo e orientar o trânsito. Raphael Bellarmino já estava morto e sua mulher, Natyeli tinha sido socorrida com ferimentos a unidade de Araraquara.
RETORNO AO LOCAL DO ACIDENTE

Na terça-feira a reportagem do portal Nossa Cidade voltou ao local do acidente. Ainda havia fumaça saindo da vegetação próximo ao tronco da árvore que caiu. No restaurante às margens da pista sentido São Carlos, as pessoas lamentavam o ocorrido e disseram que o fogo começou logo após o almoço, mas distante da pista. Disseram que não conseguiram contato com os bombeiros. O questionamento se repetiu: por que a pista não foi fechada. Já no restaurante às margens da rodovia, no sentido Araraquara, próximo ao local onde a árvore caiu, pessoas que estavam no domingo no local relataram que o fogo começou distante. Também tentaram contato com os bombeiros e não foi possível. Diante disso, acionaram a concessionária e até mesmo pediram ajuda a uma usina das imediações. O socorro chegou e começou o combate às chamas. Porém, com vento forte e vegetação seca, o fogo se propagou rapidamente e atingiu a figueira, que acabou tombando e atingindo o carro onde estava o casal em lua de mel.
Pela que a reportagem apurou no local ouvindo várias pessoas, o fogo provavelmente foi visto pouco depois das 14 horas, mas ainda distante da figueira e da margem da rodovia.
Quanto à árvore, não há informaç ões técnicas disponíveis. Uma pessoa que estava no restaurante disse que ela deveria ter aproximadamente 20 metros de altura. Era bastante antiga. Um motorista ouvido pela reportagem disse que ela existia muito antes da duplicação da rodovia.
POSIÇÃO DA CONCESSIONÁRIA
A reportagem buscou informações junto à concessionária Eco Noroeste. As perguntas não foram respondidas diretamente. Mas, por meio de nota, a concessionária fez esclarecimentos quanto ao atendimento da ocorrência.
“A Ecovias Noroeste Paulista, concessionária do grupo EcoRodovias, manifesta profundo pesar pelo falecimento ocorrido em decorrência do acidente registrado no último dia 5 de outubro, na Rodovia Washington Luís (SP-310), em Araraquara (SP).
Diante das informações divulgadas por alguns veículos de comunicação, a concessionária esclarece que todas as medidas de segurança e atendimento foram adotadas imediatamente, seguindo rigorosamente os protocolos operacionais estabelecidos para situações de incêndio e interdição de pista”, informou por meio de nota.
A empresa divulgou a cronologia da ocorrência e detalhou os procedimentos em diferentes ações, como segue:
- Às 14h39, o Centro de Controle Operacional (CCO) da Ecovias Noroeste Paulista identificou um foco de incêndio fora da faixa de domínio da rodovia para apoiar na sinalização.
- As equipes operacionais foram imediatamente acionadas e deslocadas ao local, com viaturas de inspeção, ambulância, guincho leve e caminhão-pipa
- Ao chegar ao km 261 da pista norte (sentido Capital–Interior), as equipes constataram que uma árvore de grande porte estava em chamas.
- A faixa 3 foi bloqueada de forma imediata, conforme protocolo de segurança, para permitir o combate direto ao fogo e evitar riscos a usuários e equipes.
- Durante o atendimento, a rodovia permaneceu devidamente sinalizada, e os motoristas foram orientados a reduzir a velocidade.
- As equipes de campo permaneceram em contato constante com o CCO, que avaliava, em tempo real, a evolução da situação e a necessidade de novas interdições.
- Diante da mudança repentina na direção dos ventos, o fogo se intensificou e atingiu a árvore, que acabou rompendo-se de forma vertical e imprevisível, atingindo um veículo leve.
- Infelizmente, o condutor veio a óbito no local e a passageira foi socorrida com ferimentos moderados.
- Para garantir a segurança dos usuários e das equipes, a pista foi totalmente interditada.
- Às 18h10, foi liberada a faixa 1; e às 21h07, a faixa 2.
- No mesmo período, equipes distintas da concessionária também atuavam em outros dois incêndios simultâneos:
- No km 235 da SP-310 (São Carlos); e
- No km 306 da SP-326 (Rodovia Brigadeiro Faria Lima, em Matão).
A concessionária informou que mantém um protocolo específico para ocorrências de incêndio, com foco em resposta rápida, isolamento de risco e preservação da vida.
“O processo de atendimento e eventual fechamento de pista ocorre conforme os seguintes critérios técnicos:
- Identificação e acionamento
- Detecção do fogo por:
- Monitoramento por câmeras CFTV;
- Patrulhamento de inspeção de tráfego;
- Chamadas de usuários via 0800-326-3663;
- Ou alertas recebidos via sistema interno do Departamento de Atendimento Integrado (DAI).
- O CCO aciona imediatamente as equipes operacionais mais próximas e inicia a sinalização preventiva da via.
- Avaliação de risco e bloqueio
- A decisão de bloquear parcial ou totalmente a rodovia é tomada com base em:
- Avaliação conjunta entre o CCO e as equipes em campo;
- Condições do vento, visibilidade e propagação do fogo;
- Presença de árvores, galhos ou outros elementos que possam representar risco imediato.
- O bloqueio preventivo de faixas é realizado assim que identificado risco potencial, e a interdição total ocorre sempre que a segurança dos usuários possa ser comprometida.
- Ações de combate e apoio
- Deslocamento de caminhões-pipa (com capacidade de 6 mil litros de água), ambulâncias e guinchos leves, conforme a gravidade do evento.
- Atuação coordenada com o Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e demais órgãos parceiros, via RINEM (Rede Integrada de Emergência) e PAM (Plano de Ação Mútua).
Prevenção e monitoramento permanente
- A Ecovias Noroeste Paulista possui um mapeamento completo de árvores ao longo dos trechos sob concessão, atualizado em 2024 e protocolado junto à CETESB e à ARTESP.
- Esse levantamento classifica cada árvore conforme seu nível de risco (baixo, moderado ou alto) e orienta as ações de poda ou retirada preventiva.
- A árvore atingida neste evento constava no mapeamento como de baixo risco, sem indicação de remoção.
- A concessionária realiza ações contínuas de poda, supressão e conscientização ambiental, conforme as normas e aprovações da agência reguladora.
Comando da Polícia Rodoviária responde perguntas e cita ações desenvolvidas
A reportagem do portal Nossa Cidade enviou duas perguntas ao setor de Comunicação Social do 3º Batalhão de Polícia Militar Rodoviária sobre o ocorrido. A resposta foi em nome do comandante do batalhão, tenente coronel PM Junqueira.
01 – A quem compete a decisão de fechar a rodovia, à concessionária ou ao Policiamento Rodoviário?
Todas as vezes que acontece um incidente de incêndios florestais às margens de Rodovias é instalado um gabinete de incidentes na área do 3º BPRv, onde os comandantes passam a se conectar com diversos órgãos (Concessionárias, DER, Usinas de Açúcar, Corpo de Bombeiros, Empresas as Margens das Rodovias etc.), tudo com o objetivo de proporcionar uma série de ações coordenadas para direcionar e controlar riscos. A decisão de fechar a rodovia dependerá de quem seja o primeiro respondedor do incidente e depende de uma análise do local. No dia 05 de outubro de 2025 o Policiamento Rodoviário foi acionado para o local visando o atendimento do sinistro de trânsito, pois já havia uma série de recursos agindo nas proximidades, ou seja, o Corpo de Bombeiros agia no combate ao incêndio juntamente com os caminhões pipas das usinas, havia viaturas de inspeção no acostamento e foi interditada a faixa 2 para que a ambulância pudesse agir sobre o atendimento do sinistro de trânsito, na tentativa de prover o devido atendimento à vítima. Na cobertura do território, muitas vezes, todos os recursos do Policiamento Rodoviário, das Concessionárias, dos parceiros são empenhados na sua totalidade e vamos priorizando as regiões de maior gravidade até que possamos esgotar todos os incidentes. Infelizmente nesse dia, uma árvore que estava além do acostamento acabou partindo ao meio e metade caiu sobre o veículo vitimando o condutor. A faixa 01 permaneceu aberta, pois a visibilidade ainda não havia sido contaminada, sendo de suma importância esse procedimento para que os recursos acessassem o local e pessoas não ficassem presas imersas a fumaça e até mesmo diante de uma onda de calor. Nesse evento, a decisão de interditar a faixa 2 partiu de uma solicitação dos socorristas, os quais precisavam de maior espaço e segurança para acessar a vítima e foi providenciada a regular conificação pela Concessionária Ecovias Noroeste, estando o procedimento correto diante da cena local.
02 – Há informações sobre o motivo pelo qual a rodovia não foi fechada, mesmo com a árvore em chamas e com risco de queda?
Cabe lembrar que o Sistema de Comando de Incidentes é uma ferramenta de gestão padronizada para atender às demandas pequenas ou grandes emergências. Todo procedimento depende de um modelo de decisão conjunta, como foi o caso em testilha, onde um socorrista agia integrado com outros recursos e precisou interditar apenas a faixa 2 para acessar a vítima e proteger o atendimento do incidente. No momento do atendimento a atenção estava centrada em proteger e acessar a vítima e os recursos distribuídos pelo território na sua plenitude, cada um com sua respectiva função, habilidade e competência. O fechamento completo de uma rodovia é um procedimento complexo, que muitas vezes depende de inversão de pista, deslocamento do trânsito pelo acostamento etc. Cogitar-se sobre o porquê a rodovia não foi fechada com a árvore em chamas é desconsiderar-se a visão do fenômeno que somente os respondedores do incidente podem ter no local e toda decisão, até mesmo de acessar o local com chamas nas proximidades envolve riscos, lembrando que o infortúnio da árvore cair sobre o motorista, só não vitimou também a passageira, pois os respondedores do incidente foram ágeis. As autoridades policiais e Corpo de Bombeiros, bem como, o engajamento com as Concessionárias, DER e Usinas envolvem justamente esse plano de contingência para que os riscos mais graves sejam mitigados. Por fim cabe lembrar que a gestão de riscos na segurança viária é uma prática essencial para garantir a proteção dos usuários e a eficiência do emprego de recursos com a premissa de proteger o maior número possível de pessoas e que também estamos extremamente sensibilizados com o episódio, apesar de todos os esforços para evitá-lo.
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