Dia de Finados: especialista desvenda mitos e curiosidades sobre o setor e a relação dos brasileiros com a morte
Comportamento e tecnologia têm transformado o modo como o país lida com o luto e os rituais de despedida
DA REDAÇÃO – SÃO PAULO
Com a chegada do Dia de Finados, data marcada por homenagens e lembranças, também vêm à tona crenças e tabus que ainda cercam o universo da morte no imaginário popular. Embora o tema esteja cada vez mais presente nas conversas, muitos mitos persistem — desde o medo de frequentar cemitérios até equívocos sobre cremação.
Para Roberto Toledo, diretor do Grupo Zelo, o momento é ideal para promover uma reflexão mais leve e realista sobre o tema.
“Ainda existem muitas crenças que distorcem a visão sobre a morte e os rituais de despedida. Hoje, as cerimônias estão mais personalizadas, o uso de tecnologia é crescente e há uma preocupação maior com o meio ambiente e com o acolhimento das famílias. Falar sobre o assunto com naturalidade é uma forma de quebrar tabus e transformar o Dia de Finados em um momento de memória e celebração da vida”, afirma.
O que mudou nos últimos anos
O setor funerário passou por profunda transformação nos últimos anos. As cerimônias tornaram-se mais acolhedoras e personalizadas, refletindo a história e as paixões de quem partiu.
O uso de tecnologias — como transmissões online e plataformas de homenagens virtuais — tornou-se mais comum, permitindo que familiares e amigos participem à distância.
Outro avanço está nas soluções ecológicas, como o uso de insumos menos agressivos ao meio ambiente, a criação de diamantes a partir das cinzas da cremação, o crescimento dos cemitérios verticais e o aprimoramento das práticas de destinação de resíduos.
“O cuidado com o corpo, por exemplo, é feito com técnicas mais seguras e sustentáveis. Além disso, há uma influência crescente da psicologia do luto, que ajuda a tornar todo o processo mais humano e respeitoso”, acrescenta Toledo.
10 mitos e verdades sobre a morte e o luto no Brasil
Mito: “Todos os cemitérios são iguais.”
Realidade: Cada espaço tem características e tradições próprias. Há desde cemitérios verticais até jardins-memoriais, que unem natureza e arte.
Mito: “Planejar o próprio funeral atrai a morte.”
Realidade: Trata-se de superstição. Refletir sobre o tema é um gesto de maturidade e cuidado com a família.
Mito: “A cremação é cara e proibida pela religião.”
Realidade: O custo varia conforme a localidade e o serviço. A Igreja Católica permite a cremação desde 1963, e religiões como o Hinduísmo e o Budismo a adotam em seus rituais.
Mito: “As cinzas da cremação contêm flores e pedaços do caixão.”
Realidade: O forno crematório atinge até 1.000 °C, consumindo madeira, tecidos e flores. Restam apenas fragmentos ósseos processados em cinzas.
Mito: “As cinzas são misturadas com as de outras pessoas.”
Realidade: O processo é individual, com rigorosos protocolos de identificação e rastreio.
Mito: “Os cemitérios reutilizam urnas.”
Realidade: A prática é ilegal. As urnas são de uso único e o descarte segue normas ambientais.
Mito: “É proibido realizar velórios à noite.”
Realidade: Não há lei federal que proíba. Limitações de horário podem ocorrer por segurança e logística.
Mito: “Pisar na terra do cemitério traz doença.”
Realidade: Cemitérios modernos seguem padrões sanitários rígidos, garantindo segurança aos visitantes.
Mito: “É possível enterrar em qualquer lugar.”
Realidade: O sepultamento só pode ocorrer em locais legalmente autorizados.
Mito: “Falar sobre a morte atrai coisas ruins.”
Realidade: Falar sobre o tema ajuda a encarar a finitude com naturalidade e a viver o luto de forma saudável.
Ressinificando o Dia de Finados
Para o especialista, o Dia de Finados pode — e deve — ser um momento de afeto e celebração da memória, não apenas de tristeza.
“Após o período mais doloroso do luto, manter viva a memória de quem partiu é uma das formas mais puras de amor. Plantar uma árvore, acender uma vela, reunir a família ou visitar o local de descanso são gestos que reforçam esse vínculo e ressignificam a data”, conclui Toledo.
Glossário – entenda alguns termos do universo da despedida
Cinzas: resultado da cremação após o processamento dos fragmentos ósseos.
Cinerário: espaço coletivo destinado a receber as cinzas dos cremados.
Columbário: estrutura com nichos para guardar urnas cinerárias individualmente.
Cremação: processo de redução do corpo a cinzas por incineração.
Exumação: retirada dos restos mortais de um jazigo, conforme prazos legais.
Inumação: termo técnico para sepultamento tradicional.
Jazigo: espaço destinado ao sepultamento, individual ou familiar.
Lápide: placa de identificação colocada sobre o túmulo.
Plano funerário: serviço contratado antecipadamente para cobertura e assistência no falecimento.
Tanatopraxia: técnica que preserva o corpo por mais tempo, permitindo velórios prolongados.
Traslado: transporte do corpo entre cidades, estados ou países, conforme normas legais.
Urna funerária: recipiente que acondiciona o corpo, conhecido como caixão.
Velório: cerimônia de despedida que antecede o sepultamento ou cremação.
